quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Modernidade e pós-modernidade - Silvio Gallo

MODERNIDADE/PÓS-MODERNIDADE: TENSÕES E REPERCUSSÕES NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO

Revista da Faculdade de Educação da USP.
Educação e Pesquisa, v.32 n.3 São Paulo set./dez.2006

SILVIO GALLO – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Formado em Filosofia (1986), pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas;
Mestre em Educação (1990) pela Universidade Estadual de Campinas - Dissertação: “Educação anarquista: por uma pedagogia do risco”;
Doutor em Educação (1993), pela Universidade Estadual de Campinas – Tese: “Autoridade e a construção da liberdade: o paradigma anarquista em educação”


As propostas do autor nesse artigo são as seguintes: falar sobre as repercussões que o debate em tordo de uma  a superação da modernidade e a suposta instauração de uma pós-modernidade traz para Educação como campo de conhecimento e para a pesquisa nessa área.
Nesse sentido entende que existe um grande grupo de pesquisadores que fazem a apologética da chegada dos tempos modernos, porém, é pequeno o grupo daqueles que se dispõem a pensar sobre as transformações pelas quais passa o mundo e os desafios que se colocam a cada dia.

Explica que a expressão pós-moderno e outras correlatas advém dos meios artísticos, em especial da arquitetura, e faz todo sentido nesse contexto, mas que não tem a força e a potência de um conceito para a filosofia.
O autor faz questão de frisar que os primeiros filósofos que utilizaram o termo pós-modernidade o fizeram mais como adjetivo do que como substantivo, fato que a tradução brasileira esconde. Para autores como Lyotard e Foster, que usam o termo como adjetivo, o pós-moderno aparece numa função auxiliar que ajuda a definir um contexto e suas características.
Por outro lado quando se usa a expressão como substantivo, a pós-modernidade se apresenta como um conceito que deveria apresentar densidade e intensidade. Segundo Gallo as expressões como pós-moderno ou pós-modernidade designam, simplesmente, uma temporalidade, um tempo posterior à modernidade, porém, não consegue definir o que seria esse tempo e como não são capazes de dizer por si mesmas, são filosoficamente vazias.

Silvio Gallo cita  Gilles Lipovetsky  que escreve o seguinte: “O neologismo pós-moderno tinha um mérito: salientar uma mudança de direção, uma reorganização em profundidade do modo de funcionamento social e cultural das sociedades democráticas avançadas .... No momento em que triunfam a tecnologia e a genética, a globalização liberal e os direitos humanos, o rótulo pós-moderno já ganhou rugas, tendo esgotado sua capacidade de exprimir o mundo que anuncia”. (Lipovetsky, 2004, p.52).

Contra a noção de pós-modernidade, ou para além dela, na medida em que nunca teve condições de expressar um campo, Lipovetsky, propõem as expressões hipermoderno, hipermodernidade.
Assim, Lipovetsky, antes defensor da força explicativa do pós-moderno, afirmando a sua superação da modernidade, revê suas teses, apoiando a posição defendida por Jurgen Habermas em “O discurso filosófico da modernidade”, de que a modernidade é um projeto inacabado e que, não tendo sido completado, ainda não pode ser superado.
Lipovetsky tinha uma postura otimista e via no pós-modernismo uma força de renovação, de transformação. Porém, assume uma posição pessimista, que vê no hipermodernismo o remate da modernidade naquilo que ela tem de mais reacionário e conservador: a mercantilização da vida, a globalização do liberalismo, a exploração da instrumentalização da razão até as últimas conseqüências.

Silvio Gallo entende que as propostas de Lipovetsky e Habermas também não resolvem o problema da conceituação, porém, acrescentam um perspectiva importante: a da elasticidade do projeto moderno. Retomando as idéias de Deleuze e Guattari, desenvolvido em “O anti-Édipo”(1976), quando mostram que o capitalismo é capaz de metamorfosear. Quando nos aproximamos de seus limites históricos, o que poderia significar uma crise e sua superação, mais os limites são alargados, elasticamente sendo colocados mais além.

Um dos aspectos centrais do projeto moderno é o epistemológico. Nesse contexto ocorre à emergência e à consolidação da lógica disciplinar, cujo ponto central é a busca de uma objetividade e de uma universalidade do conhecimento, para que o mesmo possa ser reconhecido como válido e verdadeiro. Surge então a organização interna de cada saber como uma disciplina.
Esse movimento começa a se esgotar no final do século XIX, destacando-se a voz de Nietzsche, que fez a crítica ao uso da razão tomada como absoluta, procurando mostrar que o conhecimento é sobretudo vida, é encarnado, é ligado ao mundo, por mais que tentemos transformá-lo em formas puras e abstratas.

  A partir da visão desse filósofos, Silvio Gallo faz algumas considerações sobre a pesquisa em educação no Brasil, onde para o autor existe uma tensão entre um estilo clássico de pesquisa, articulado como uma perspectiva positiva, disciplinar, universalizante, e um estilo transversal que investe na errância da curiosidade, apostando na emergência de possibilidades distintas, articulando com uma lógica da diferença, não universalizante.
O estilo clássico, segundo o autor, é a pesquisa régia ou maior, feita de acordo com os cânones , respeitando os paradigmas definidos pela máquina estatal e pelas agências de fomento, utilizando-se de métodos bem definidos e chegando a conclusões previsíveis e não perturbadoras (embora muitas vezes de grande importância e impacto). Já no segundo estilo, poderíamos identificar como uma pesquisa nômade ou menor, que escapa, vaza, passa pelas grades disciplinares, proliferando saberes menores, distintos inusitados.

Porém, o  segundo estilo também pode ser capturado, sendo que  algumas vezes ele já é produzido, movido por um desejo de captura, querendo vir a fazer parte da máquina de Estado, a definir políticas públicas, a fazer jus a gordas fatias de financiamento. No entanto, em outras vezes, ele é produzido mesmo como desejo de fuga, ciente do risco de perecer, de ser apagado, negado, vilipendiado.

Para o autor o que importa mesmo é saber se as praticas culturais (educacionais, no caso específico) estão voltadas para a manutenção das coisas ou para sua transformação. E o debate sobre a tensão modernidade/pós-modernidade não pode obscurecer nossa percepção sobre esse fato.



Portanto, a proposta de Silvio Gallo é discutir  criticamente a tese de que viveríamos na pós-modernidade, dando ênfase a essa afirmação no âmbito do pensamento social, por compreender que essa expressão não tem a força e a intensidade de um conceito filosófico, acabando vazia de sentido.
Por isso propõem avançar para além do debate sobre o fim ou não da modernidade, optando pela noção de hipermodernidade, proposta por Lipovesty, buscando compreender suas implicações.
Porém, o autor reconhece as importantes contribuições da tese que defende  a pós-modernidade, principalmente nos aspectos epistemológicos e políticos.
Partindo dessa indagações o autor presenta duas interrogações:
Ø  Vivemos a crise da modernidade?
Ø  Vivemos um “momento pós-moderno” como muitos discursos propagam?

Lacunas, expressadas pelo próprio autor.
Ø  Investigar a fundo o projeto moderno, nos aspectos epistemológicos e políticos;
Ø  Investigar a fundo também as propostas contemporâneas, identificadas ou não como pós-modernismo;
Ø  Através dessas investigações apreender os caminhos e as possibilidades que se abrem para um saber compromissado, articulado em torno de um projeto claramente exposto.



Vanderlei da Silva
vangraz@uol.com.br

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